A Linguagem do Organismo


O nosso corpo, como organismo vivo, possui uma sabedoria que antecede qualquer estudo que tenha sido feito nele.

Se queremos pensar que de facto podemos fazer qualquer coisa para curar as nossas doenças, a nossa natureza tem que ser profundamente estudada e compreendida.

Temos que entender primeiro o que é a natureza humana na sua patologia antes de querer intervir nos processos de cura. Doutra maneira não podemos modificar a nossa saúde duma maneira positiva e sábia.

O nosso organismo, como entidade natural,  instintivamente se expressa com o fim de proteger a sua integridade; esta ‘ linguagem ‘ tem uma lógica definida.
O processo smallde adoecer manifesta uma evolução semelhante a da um discurso; tem começo, tem um desenvolvimento, e tem um resultado – aquilo que normalmente chamamos de doença (como são os termos: diabetes, eczema, enxaqueca…).

É preciso compreender a ‘ linguagem ‘ do corpo humano, em todas suas manifestações, para poder ter uma ‘conversa’ com ele no processo de fazer um diagnóstico, decidir o tratamento, e conduzir à cura.

As doenças não aparecem dum momento para o outro, assim do pé para a mão.

Vão aparecendo.

Num caso mais agudo, o mal-estar que antecede uma virose por exemplo: a perda de apetite, a fraqueza, o desânimo, são chamados de prodromos da doença…

Num processo mais crónico, como uma gastrite ou uma colite, podem haver manifestações diversas que antecedem estas doenças mais específicas, as manifestações podem ser uma dor de cabeça por exemplo, ou a insónia que acompanha as preocupações do quotidiano.

Quando já se manifestou o sintoma que chamamos de doença, no nosso exemplo, a colite, o organismo já esteve a indicar, desde muito tempo antes, na sua linguagem muito específica e de muitas maneiras e com muitos sinais, que o discurso do fluxo vital está perturbado.

– Pode ter se manifestado há tempos atrás uma aversão a algum alimento específico,
– ou pode ter aparecido flatulência sem motivo aparente,
– ou podem ter aparecido desejos alimentares, ou mesmo aversões, que anteriormente não estavam;
– pode o paciente ter tido náusea recorrente nalgum momento do dia.

Também a pessoa que sofre de colite pode lembrar-se que já há algum tempo – meses ou anos até – começou a sentir mais preocupação relativamente a algum assunto específico quando anteriormente isso não existia.
Junto com isto, se calhar, começou por ter algumas perturbações do sono, como acordar frequentemente a noite ou padecer de insónia depois das 3 da manhã.

Toda esta sequência de sintomas, em todos os aparelhos e sistemas, até chegar a manifestar-se  a colite, é um discurso, é um fluxo dinâmico, e são indicadores de que a função vital do organismo inteiro, já desde uma certa altura, tomou o rumo da doença..

Temos que ler:

Preocupação excessiva, insónia, náusea, flatulência, aversão ao alimento específico, e colite.  Nesse sentido, e nessa sequência.

É uma frase completa no dinamismo da patologia.

Tem que se compreender tudo como uma sequência, como um discurso único, num tipo de patologia específica, que se manifesta de diferentes maneiras e em diferentes áreas do organismo.

O dinamismo da doença é como se fosse uma ordem de trabalho, algo sistematizado que irá produzir no final a colite.  A doença é o processo, e essa é a sua linguagem específica.

Quando ocorre um processo de cura, mas quero dizer: cura realmente, e não só alívio dos sintomas, observamos sempre que todo esse discurso, toda essa sequência desaparece, e desaparece numa certa ordem, desde o mais físico como a colite, até o mais funcional e subtil como as insónias e as preocupações. (ver O Retorno dos sintomas)

O mecanismo funcional dum tratamento homeopático é o que mais se assemelha aos processos naturais de cura no organismo; e é devido a isso que é tão importante conhecer em pormenor as características de cada paciente, assim como a história de cada um dos sintomas.

O médico tem que agir em sintonia com os processos de cura, assim como o organismo o faz.   Isto só acontece quando conseguimos estimular a força vital de maneira a que  o próprio organismo entre no ‘rumo da cura’ na sequência inversa do processo de adoecer.

A doença é um proceso, e a cura é um processo também; é o processo inverso ao de ir adoecendo.

Não é racional lutar contra sintomas só porque aparecem; isso traz desequilíbrios mais profundos.  Isso é ocultar sintomas sem curar a causa.

A prática da homeopatia desenvolve uma lógica, define uma percepção que faz compreender a linguagem do organismo, de maneira a facilitar o processo de cura.